quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Eucalipto é capaz de armazenar grandes quantidades de carbono

  • Pesquisa registrou fixação de mais de 674 toneladas de carbono por hectare proporcionadas pela espécie.
  • Mais uma vez, trabalho de pesquisa demonstra que florestas são capazes de reduzir circulação de gases de efeito estufa na atmosfera.
  • Plantios podem ser usados para compensação de emissões.
  • Pesquisa também avaliou a quantidade de carbono armazenado por espécies de árvores nativas do Cerrado.
  • Resultados reforçam papel de florestas, nativas e plantadas, de acumular carbono e mitigar as mudanças no clima.

 

Estudo coordenado pela Embrapa Cerrados (DF) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) mostra que os plantios de povoamentos de eucalipto podem armazenar grandes quantidades de carbono na biomassa da parte aérea e no solo, assim como as áreas de Cerrado nativo, contribuindo para a mitigação de gases de efeito estufa (GEE), em especial o gás carbônico (CO2). Os resultados indicam elevados níveis de carbono em plantios de eucalipto e em uma área de vegetação natural analisados (acima de 183,99 toneladas por hectare - t/ha), acumulado principalmente no solo, demonstrando que a espécie pode contribuir para a fixação de mais de 674,17 t/ha de CO2.

As árvores, tanto naturais como plantadas, podem atuar como drenos de carbono, pois fixam grande quantidade de carbono pelo processo da fotossíntese e o alocam na biomassa da parte aérea (tronco e copa), nas raízes e na adição de resíduos orgânicos ao solo. Pesquisas sugerem que as florestas, de modo geral, têm papel fundamental não apenas no ciclo do carbono, mas também podem contribuir para minimizar o aquecimento global reduzindo a circulação de GEE como o óxido nitroso (N2O), o metano (CH4) e o gás carbônico (CO2).

“Nesse sentido, a remoção de GEE da atmosfera por plantios florestais em savanas deve ser considerada, se não para longo prazo, pelo menos para compensações de carbono no curto prazo. No caso de povoamentos de eucalipto, o corte é realizado aos 7, aos 14, e aos 21 anos do plantio para papel e celulose, que é o principal uso no Brasil”, aponta o pesquisador da UnB Alcides Gatto, um dos autores do trabalho.

De acordo com o Relatório Anual 2022 da Indústria Brasileira de Árvores, o Brasil tem uma área aproximada de 10 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 76% plantações de eucalipto destinadas a diversos fins comerciais, desde a produção de carvão, papel e celulose, mourões para cerca, postes de eletrificação e madeira para móveis e construção civil, com ciclos do plantio ao corte variando de cinco a vinte anos, dependendo do destino da madeira produzida.

A pesquisadora da Embrapa Alexsandra de Oliveira lembra que há diversos estudos sobre estoque de carbono no solo e mitigação de GEE em áreas de Cerrado convertidas em lavouras ou pastagens. Por outro lado, apesar da expansão da cultura do eucalipto no bioma, ainda há pouca informação quanto ao impacto dos plantios sobre os estoques de carbono e as emissões de GEE.

Além disso, os pesquisadores apontam que muitas pesquisas estão restritas a mensurações do carbono na biomassa do solo e acima do solo, enquanto havia uma lacuna em estimar a quantidade de carbono nos diferentes compartimentos de plantios de eucalipto, como raízes e biomassa morta no Cerrado.

“Dada a importância das florestas na fixação de carbono, e como nos ecossistemas terrestres a vegetação e o solo são os principais drenos de carbono, informações sobre o carbono acima do solo e nas raízes são essenciais para reduzir incertezas em métricas regionais sobre áreas de plantio de eucalipto no Cerrado, além de alimentarem modelos nacionais de armazenamento de carbono e mudanças climáticas”, completa Eloisa Ferreira, pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF).

Assim, o estudo buscou quantificar o estoque de carbono e a biomassa por compartimentos em plantios de eucalipto (híbrido Eucalyptus urophylla x Eucalyptus grandis) de diferentes idades e estimar, por métodos diretos e indiretos, a biomassa e o estoque de carbono de uma área com vegetação nativa de Cerrado. O trabalho foi realizado na zona rural do Paranoá (DF), em áreas vizinhas com dois plantios de eucalipto – uma com o clone EAC1528 de quatro anos e outra com o clone GG100 de seis anos – e uma área de Cerradão, uma das formações vegetais de Cerrado.

Carbono das árvores

A equipe realizou um inventário florestal para estudar a composição florística da área de Cerrado nativo. Foram encontradas 84 espécies de 41 famílias botânicas. As espécies nativas mostraram diferentes capacidades de armazenamento de biomassa e carbono. O pau-terra (Qualea grandiflora), com 161 árvores/ha, foi a espécie que estocou mais carbono, 2,87 t/ha (13% do total), cerca de 17,88 kg/ha de carbono por árvore. Por outro lado, o pau-terrinha (Q. parviflora), com 24 árvores/ha, foi a espécie que mais estocou carbono por indivíduo: 77,88 kg/ha.

Para a biomassa e o carbono acumulado na parte aérea das árvores, foi observado que a madeira foi o componente com a maior contribuição (81,35% no plantio mais jovem e 88,46% no eucalipto mais velho). Segundo os pesquisadores, no eucalipto, a madeira é a parte da planta que mais acumula biomassa e carbono, sendo que nas demais partes, como a casca, folhas e galhos, o acúmulo pode variar de acordo com as características da área estudada.

O estoque de biomassa e o armazenamento de carbono aumentaram com a idade do plantio das árvores. No de quatro anos, o carbono e a biomassa acumulados na parte aérea foram respectivamente de 62,1 t/ha (27,5% do total) e 141,1 t/ha, enquanto no plantio com seis anos foram de 81,7 t/ha (37,78% do total) e 189,7 t/ha.

Carbono no solo e nas raízes

A principal reserva de carbono nas três áreas estudadas está no solo, que fixou cerca de 68%, 58% e 84% do carbono total, respectivamente, nas áreas de eucalipto de quatro anos, de eucalipto de seis anos e de Cerrado nativo. Foi observado que a concentração total de carbono no solo diminui exponencialmente com a profundidade.

 

Detalhes da pesquisa

A pesquisadora Karina Pulrolnik, da Embrapa Cerrados, explica que a maior concentração de carbono na camada superficial (0 a 5 cm) se deve à deposição de material orgânico e à lenta decomposição em florestas plantadas e naturais, ricas em lignina e com uma alta relação carbono/nitrogênio, fatores que aumentam o tempo de decomposição da serapilheira e os níveis de carbono no solo. A densidade das raízes finas também contribui para o aumento dos níveis de carbono no solo, mesmo naqueles com baixa fertilidade natural, como os de Cerrado.

Do total de carbono encontrado no perfil do solo de 0 a 100 cm de profundidade, a camada de 0 a 30 cm representou 48% do total na área de plantio de eucalipto de quatro anos, 50% no plantio de eucalipto de seis anos e 52% no Cerrado nativo. As áreas de plantio de eucalipto com quatro anos de idade (154,23 t/ha) e de Cerrado nativo (154,69 t/ha) estocaram as maiores quantidades de carbono para todas as camadas de solo estudadas. Ou seja, após quatro anos da implantação do eucalipto, não houve redução de carbono no solo, enquanto o plantio de eucalipto de seis anos apresentou os menores valores de carbono no solo (126,26 t/ha).

“O plantio de eucalipto de quatro anos pareceu ter reposto os estoques de carbono do solo no primeiro metro de profundidade, apesar de algumas perdas que possam ter ocorrido logo após o estabelecimento. Por outro lado, uma perda significativa de carbono no solo de 18% (28,43 t/ha) foi observada devido ao uso alternativo, onde uma área natural similar foi convertida em agricultura, principalmente lavoura de soja e, anos depois, transformada em um plantio de eucalipto de seis anos”, comenta Alexsandra de Oliveira.

Ela acrescenta que estudos científicos mostram diminuição nos níveis de carbono nos primeiros anos de conversão da vegetação natural para outros tipos de uso do solo, como lavouras de grãos, período em que uma proporção significativa de carbono do solo que estava fisicamente protegida em agregados estáveis é abruptamente oxidada, resultando na mineralização e na perda para a atmosfera sob a forma de CO2.

As raízes tiveram menor contribuição para o armazenamento total de carbono – 4,9 t/ha na área com eucalipto de quatro anos, 1,9 t/ha no eucalipto de seis anos e 3,1 t/ha no Cerrado nativo, considerando uma profundidade de 0 a 60 cm de profundidade, o que representa, respectivamente, 2,16%, 0,88% e 1,68% do carbono total nas áreas.

Assim, enquanto o eucalipto de seis anos teve o maior estoque de carbono na parte aérea, no eucalipto de quatro anos ocorreu o maior estoque de carbono nas raízes. Os pesquisadores apontam que a menor quantidade de raízes superficiais no plantio mais antigo pode estar relacionada à proporção de raízes que cresceram em profundidade à medida que a idade do plantio aumentava.

Eucalipto jovem estocou mais carbono

Apesar dos diferentes resultados de dinâmica de carbono entre os componentes das árvores, das raízes e do solo nas três áreas avaliadas, os estoques totais de carbono foram maiores no plantio de eucalipto mais jovem, com quatro anos de idade (226,23 t/ha), possivelmente em função da maior produção de biomassa nos estágios iniciais de crescimento – com o passar dos anos, o crescimento da planta diminui. Mas esse resultado, segundo os autores, indica a necessidade de mais estudos em escala de plantios comerciais e com diferentes idades para confirmar as similaridades dos dados encontrados nesse trabalho.

Os pesquisadores destacam a notável capacidade das espécies florestais, nativas ou plantadas, em fixar o gás carbônico (CO2), sempre apresentando saldo positivo (veja a ilustração), mesmo descontando as perdas por respiração, morte das plantas e retorno gradual do CO2 fixado inicialmente para a atmosfera. Eles lembram, no entanto, que o carbono estocado é mantido nas árvores enquanto vivas, na serapilheira e na matéria orgânica do solo por décadas e até milhares de anos em formas orgânicas estáveis no solo.

“Isso valida a importância de florestas nativas e plantadas como drenos de GEE, em especial o CO2, pois mitigam as mudanças climáticas, mostrando relevância para a sustentabilidade local e para a geração de mercado de carbono”, finaliza a engenheira-florestal Fabiana Piontekowski Ribeiro, doutoranda pela UnB à época da pesquisa.

 

Os autores do estudo

A publicação, que está disponível na integra aqui, é assinada por Fabiana Piontekowski Ribeiro, Alcides Gatto, Alexsandra Duarte de Oliveira, Karina Pulrolnik, Marco Bruno Xavier Valadão, Juliana Baldan Costa Neves Araújo, Arminda Moreira de Carvalho e Eloisa Aparecida Belleza Ferreira.

 

Breno Lobato (MTb 9.417/MG)
Embrapa Cerrados

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Pouco mais de mil espécies representam metade das árvores tropicais do planeta, aponta estudo

 

André Julião | Agência FAPESP – A imensa maioria das cerca de 46 mil espécies de árvores tropicais é extremamente rara, não passando de 10% dos indivíduos desse bioma. Por outro lado, metade das árvores dos trópicos pertence a apenas 1.053 espécies (ou 2,24%). As estimativas foram apresentadas em artigo publicado na revista Nature, assinado por um consórcio internacional de pesquisadores, incluindo um brasileiro apoiado pela FAPESP.

“As espécies dominantes têm papel fundamental na estrutura da floresta. Elas proveem recursos para outras plantas, fungos e animais. Uma das contribuições do estudo foi apontar algumas poucas espécies que representam uma grande parte dos indivíduos. Com isso, podemos fazer medições e ter estatísticas mais confiáveis de como o ecossistema funciona”, explica Bruno Garcia Luize, que realizou o trabalho como parte de seu pós-doutorado no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), com bolsa da FAPESP.

Os autores utilizaram bancos de dados públicos sobre a composição de porções de floresta na Amazônia, África e Sudeste Asiático. Normalmente com um hectare, essas áreas são chamadas de parcelas. Uma parte das parcelas amazônicas analisadas no estudo foi estabelecida e teve os dados incluídos nos bancos de dados por Luize, durante o mestrado no Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, e no doutorado no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp), em Rio Claro, também com bolsa da FAPESP.

No total, 1.097 parcelas na Amazônia, 368 na África e 103 no Sudeste Asiático foram analisadas, totalizando uma amostragem de pouco mais de 1 milhão de árvores com diâmetro de pelo menos 10 centímetros em grandes maciços florestais. Do total de árvores, 93,3% foram identificadas por espécie.

“Na Amazônia, estamos bem avançados nessas redes de inventários florestais colaborativos, que possibilitam fazer inferências e extrapolações como essa. Com os dados de outras florestas tropicais, temos agora uma dimensão mais global”, conta o pesquisador.

Hiperdominantes

Além de determinar a porcentagem de espécies hiperdominantes, como são chamadas as que compõem metade dos indivíduos de cada floresta tropical, os pesquisadores conseguiram determinar os nomes das mais prováveis de serem as mais comuns em cada uma das áreas analisadas.

Na Amazônia, por exemplo, algumas das possíveis hiperdominantes identificadas foram o matamatá (Eschweilera coriacea), com casca grossa e que pode chegar a 35 metros de altura; duas espécies de açaí (Euterpe oleracea e E. precatoria), conhecido pelo fruto e pelo palmito bastante consumidos no Brasil; e o parapará (Jacaranda copaia), única espécie de jacarandá amplamente distribuída na Amazônia.


Árvores do gênero Eschweilera foram listadas como as espécies possivelmente mais comuns na Amazônia (foto: Dick Culbert/Wikimedia Commons)

Entre as árvores amazônicas, as hiperdominantes são 2,2% das espécies. As mesmas proporções foram observadas na porção coberta de floresta tropical do continente africano, nas partes oeste, central e leste (2,2% das espécies representam 50% de todas as árvores), e no Sudeste Asiático, do Myanmar, no oeste, a Sulawesi, no leste da Ásia (2,3%). A consistência na proporção de espécies hiperdominantes chamou a atenção dos pesquisadores por indicar uma quantidade razoável de espécies que podem ser mais bem conhecidas em curto a médio prazo.

Segundo as estimativas, 299 espécies compõem 50% dos 344 bilhões de árvores presentes na Amazônia. Na parte tropical do continente africano, são 104 espécies compondo metade dos 113 bilhões de árvores tropicais em dosséis fechados. Para o Sudeste Asiático, os pesquisadores chegaram ao número de 278 espécies responsáveis por metade dos 129 bilhões de árvores.

Luize ressalva que não entraram no estudo outras florestas tropicais, como a Mata Atlântica e a floresta de Chocó, na América do Sul, além de dados da América Central, Nova Guiné e Micronésia, não disponíveis durante a execução do estudo. Uma estimativa mais robusta será possível, conta, quando essas regiões forem incluídas.

O pesquisador lembra, porém, que o levantamento traz importantes indicações de espécies que podem ser foco de estudos de autoecologia, em que se analisa como interagem com outras espécies e o ambiente.

“Isso sem contar estimativas de armazenamento de carbono dessas árvores, informação essencial para os cálculos de emissão e captura dos gases de efeito estufa responsáveis pelas mudanças climáticas”, explica.

Segundo Simon Lewis, professor da University College of London e um dos coordenadores do estudo, focar em algumas centenas de árvores comuns, em vez dos milhares de espécies sobre as quais não se conhece quase nada, pode possibilitar novas maneiras de entender as florestas tropicais.

“Isso não quer dizer renegar a importância das espécies raras, elas precisam de atenção especial para serem protegidas. Porém, ganhos rápidos e importantes em conhecimento devem vir das pesquisas sobre as espécies mais comuns”, disse o pesquisador em um informe à imprensa.

Coordenado por pesquisadores da universidade britânica, o trabalho tem 356 autores. Além de Luize, participaram pelo Brasil cientistas do Inpa, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade de São Paulo (USP) e Unicamp, além de universidades e institutos de pesquisa federais e estaduais em Estados amazônicos e em outras regiões do Brasil.

O artigo Consistent patterns of common species across tropical tree communities pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41586-023-06820-z.
 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Projeto promove preservação de remanescentes de Mata Atlântica em propriedades rurais

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – Nos últimos quatro anos, a área de vegetação nativa ameaçada de extinção ocupada por 547 propriedades rurais localizadas no corredor sudeste da Mata Atlântica, na bacia do rio Paraíba do Sul, caiu de 1,3 mil para 490 hectares – uma redução de quase 38%. Já a área de vegetação nativa livre de ameaça nessas propriedades, que abrangem 20,2 mil hectares da região que se estende pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, aumentou de 8.507 hectares em 2019 para 9.547 hectares em 2023 – uma alta de mais de 11%.

Os resultados foram obtidos por meio de um projeto pioneiro executado entre 2017 e 2023, que concedeu incentivos econômicos para produtores rurais adotarem práticas de conservação e proteção do solo na gestão de suas propriedades.

Batizado de Conexão Mata Atlântica, o programa, apoiado pela FAPESP e executado em São Paulo pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e a Fundação Florestal, serviu de laboratório para testar diferentes abordagens de aplicação de pagamento por serviços ambientais (PSA) que serão incorporadas em políticas ambientais do Estado.

“O programa Conexão Mata Atlântica é um exemplo de como é possível olhar uma cadeia como um todo, gerar renda e emprego e, ao mesmo tempo, preservar e recuperar vegetação nativa, tornando o PSA um instrumento ainda maior do que foi concebido para ser. Precisamos dar escala para todo o Estado de São Paulo para esse mecanismo, que é muito potente”, disse Natália Resende, secretária estadual do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, durante um evento de apresentação de resultados do projeto realizado em janeiro.

A iniciativa é resultado de um edital lançado em 2011 pelo Global Environment Facility (GEF) – um dos maiores financiadores de projetos ambientais no mundo – voltado à criação de um novo programa de preservação do clima por meio da concessão de linhas de crédito com foco na proteção, restauração e gestão de áreas no entorno de unidades de conservação. Outro objetivo do edital era o de promover a alteração do uso do solo em áreas rurais degradadas visando aumentar o estoque de carbono, melhorar a produtividade rural e a infiltração das águas, conter processos erosivos e reduzir a velocidade de vazão das águas, de modo a contribuir para minimizar enchentes como as que ocorreram em São Luiz do Paraitinga em dezembro de 2010.

À época diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Joly, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos idealizadores do Programa BIOTA-FAPESP, propôs que o órgão submetesse uma proposta de projeto ao edital com foco na região do Vale do Ribeira.

“A ideia foi que, se conseguíssemos demonstrar que era possível promover a conservação e a restauração de serviços ecossistêmicos naquela região, esse modelo de programa poderia ser replicado em qualquer outro lugar”, explicou Joly.

Com base nessa ideia, em 2012 o MCTI e o Estado de São Paulo, por meio da Semil, a Fundação Florestal e a FAPESP, decidiram propor um projeto que unisse a mitigação das mudanças climáticas e o apoio à biodiversidade em uma mesma ação com foco no corredor sudeste da Mata Atlântica e tendo o Vale do Ribeira como território.

A Semil e a Fundação Florestal se propuseram a trabalhar diretamente com produtores rurais na região por meio da concessão de PSA, de Certificação Orgânica, Agroecológica e Florestal (Cert) e a indução da Cadeia de Valor Sustentável (CVS) em municípios com área com pastagens degradadas considerável e na zona de amortecimento do Parque Estadual Serra do Mar em dois de seus núcleos: Santa Virgínia e Itariru, na Estação Ecológica de Bananal e na área de proteção ambiental de São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos, na Região Metropolitana de São Paulo. Já a FAPESP financiou a realização de projetos de pesquisa sobre temas como de que forma a coexistência humano-fauna sustenta os serviços ecossistêmicos em áreas de conservação.

“Nosso objetivo de criar um projeto de restauração e conservação em São Paulo que servisse de exemplo de fato aconteceu. O Conexão Mata Atlântica engajou as pessoas, trouxe benefícios ambientais enormes e mudou a vida de muitos pequenos produtores da região”, avaliou Joly.

Os Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, por também serem integrantes da bacia do Rio Paraíba do Sul, foram convidados a participar da elaboração e implementação do projeto. Cada um deles propôs implementar ações específicas para promover a conservação da biodiversidade e a recuperação dos estoques de carbono em áreas frágeis.

“Por meio do projeto foi possível aplicar ferramentas de incentivo econômico para que as propriedade rurais passassem a ser geridas adotando práticas de conservação e proteção do solo, promovendo a restauração ambiental, contribuindo para a proteção de hábitats, a coexistência com a fauna nativa, a fixação de carbono e a manutenção de biodiversidade protetora contra as pragas da lavoura. Dessa forma, foi possível transformar produtores rurais em provedores de serviços ambientais”, afirmou Luiza Saito, coordenadora do Conexão Mata Atlântica.

Diferentes modalidades

No total, foram investidos US$ 31,5 milhões, sendo US$ 16,56 milhões somente em São Paulo. Foram firmados mais de 1,7 mil contratos que beneficiaram mais de 950 produtores, de 20 municípios do Estado de São Paulo distribuídos pelo Vale do Paraíba do Sul, Vale do Rio Ribeira do Iguape e a Baixada Santista. Entre eles Aparecida, Cachoeira Paulista, Cruzeiro, Guaratinguetá, Lorena, Paraibuna, São Luiz do Paraitinga e Taubaté.

Um dos principais instrumentos adotados no programa foi o PSA, por meio do qual os produtores rurais receberam recursos de acordo com os serviços ambientais prestados a partir da preservação e restauração da vegetação nativa, além de técnicas sustentáveis na área. Ao todo, foram selecionados 939 projetos, que abrangeram 11.972 hectares.

Para liberar os recursos, os técnicos participantes do projeto avaliaram aspectos como a mudança de uso do solo por meio da promoção de melhorias dos sistemas de produção agropecuária mais sustentáveis; incentivo à adoção de práticas conservacionistas nas propriedades, tais como saneamento rural, compostagem, cercamento para condução da regeneração natural e bebedouros para o rebanho fora dos corpos d’água, entre outros quesitos.

“Depois de aderir ao projeto, os produtores rurais só receberam o PSA se de fato fizeram alguma melhoria na propriedade. Eles também receberam pelo serviço ambiental que já prestavam antes de o projeto iniciar. Daí para frente só reconhecemos eventuais novos serviços ambientais que começaram a prestar”, explicou Helena Carrascosa, responsável pela unidade de gestão de projetos da Semil.

Por meio do incentivo da pastagem manejada adequadamente, com pastejo rotacionado, diversificação de forrageiras e introdução de árvores nativas no sistema, foi possível atingir uma grande redução da área de pastagem degradada na região.

“Observamos logo no primeiro ano do projeto que a área sob manejo rotacionado passou a ser maior do que a de pastagem degradada. A expectativa é que essa tendência se mantenha e que a pastagem degradada possa até mesmo desaparecer”, disse Carrascosa.

A área de 4.260 hectares ocupada por pastagem representa 25% da área total dos imóveis rurais participantes do PSA uso múltiplo. Nos municípios de São Luiz do Paraitinga e Natividade da Serra, contudo, a participação atinge 35% e 41%, respectivamente.

Se por um lado a agropecuária é um setor que emite gases de efeito estufa (GEE) e contribui para o empobrecimento ecológico de hábitat, por outro os produtores rurais estão entre os primeiros a serem impactados pelo desequilíbrio climático. Por isso, os produtores rurais têm papel central no processo de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, ponderam pesquisadores participantes do projeto.

“O projeto realça o papel central do produtor nesse processo, investindo em capacitação e assistência técnica nas propriedades”, disse Carrascosa.

Acesso ao mercado

Os produtores rurais também receberam capacitação para obter certificação de produtos, de modo a obter acesso ao mercado de orgânicos.

As certificações asseguram o emprego de práticas sustentáveis no cultivo e manejo. No cômputo geral, foram 155 certificações em oito municípios, totalizando 4.360 hectares de área certificada.

“Esse é o primeiro grupo que se conhece de pequenos manejadores com certificação para conservação da Mata Atlântica. Já há experiências similares para a Amazônia, mas esse é o primeiro grupo que se mobilizou para atender todos os padrões de certificação para conservação da Mata Atlântica sem estar associado a uma cadeia produtiva”, disse Claudette Hahn, coordenadora desse componente do projeto.

Outro instrumento empregado no projeto foi o de Cadeias de Valor Sustentável (CVS), voltado a incentivar o cultivo e o beneficiamento de produtos típicos da Mata Atlântica, como frutas nativas, mel de abelhas, leite e hortaliças produzidos em sistemas agroflorestais (SAF).

Ao todo, 202 propriedades foram beneficiadas, sendo 73 ligadas a frutas, 41 produtoras de leite, 30 especializadas em mel e mais 18 olerícolas (produtoras de leguminosas).
 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

No Cerrado, diversificação de lavouras tem efeito benéfico sobre a fauna e reduz presença de javali

 

André Julião | Agência FAPESP – Nada substitui o Cerrado nativo, mas numa região agrícola consolidada como o nordeste do Estado de São Paulo trocar grandes áreas de monocultura por lavouras diversificadas pode ter um efeito benéfico para os mamíferos ainda remanescentes nessas áreas. Além disso, ajuda a controlar espécies invasoras que causam prejuízos aos produtores rurais, como os javalis.

Esta é uma das conclusões de um estudo publicado no Journal of Applied Ecology por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apoiados pela FAPESP.

O trabalho analisou a presença de mamíferos nativos e exóticos em 55 paisagens de 200 hectares. A cobertura do solo foi verificada ainda em 3 mil hectares que circundavam cada uma delas. No total, uma área de 34 mil quilômetros quadrados foi incluída no estudo, da qual fazem parte cerca de 80 municípios paulistas.

Entre 2017 e 2018, o grupo percorreu cada uma das paisagens e buscou por rastros deixados pelos mamíferos (pegadas, fezes e outros sinais), além de instalar câmeras em áreas de vegetação nativa.

“As paisagens tinham composições mais ou menos heterogêneas, com porções de vegetação nativa, monocultura e lavouras diversas. Assim, nós conseguimos correlacionar o grau de heterogeneidade da paisagem com a presença ou ausência de mamíferos nativos e exóticos”, explica Marcella do Carmo Pônzio, primeira autora do artigo, que atualmente faz doutorado no Instituto de Biociências (IB) da USP.

O impacto da heterogeneidade da paisagem foi equivalente a 80% do efeito que as áreas de Cerrado da região têm sobre o número de espécies nativas naquele contexto. Além disso, a diversificação da cobertura do solo reduziu em 27% a quantidade de espécies invasoras, como o javali.


Área de monocultura com vegetação nativa ao fundo: hectares contínuos de plantação, como cana-de-açúcar e café, são os mais prejudiciais para a fauna e os serviços ecossistêmicos (foto: Adriano Chiarello/FFCLRP-USP)

“Ainda que espécies mais sensíveis, como a onça-pintada, tenham desaparecido, uma maior complexidade da paisagem pode proporcionar mais espécies nativas, como onças-pardas e tatus, por exemplo, e menos desses invasores. Nas monoculturas com pouca vegetação nativa, por outro lado, javalis prevalecem”, completa Pônzio, que obteve parte dos resultados durante período em que teve bolsa da FAPESP na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

O estudo integra o projeto “Ocorrência de mamíferos e invasão biológica em remanescentes de Cerrado de paisagens agrícolas”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Adriano Garcia Chiarello, professor da FFCLRP-USP que orientou o mestrado de Pônzio.

“Na maior parte das propriedades da área estudada nem sequer se cumpre o Código Florestal”, conta Chiarello. A lei determina a conservação de 20% de vegetação nativa em propriedades no Cerrado, mais as áreas de preservação permanente (APPs), como margens de rio e topos de morro.

Segundo o pesquisador, ainda que a regra fosse cumprida, essa porcentagem não é suficiente para a manutenção da fauna e de serviços ecossistêmicos, como provisão de água, estoque de carbono e regulação do clima.

Embora esse não seja o foco do estudo, pesquisas de outros grupos já mostraram que são necessários pelo menos 35% a 40% de vegetação nativa para a manutenção da biodiversidade e de serviços associados.

Cerrado paulista

Como esperado, a cobertura de vegetação nativa foi o fator que mais influenciou a quantidade de espécies de mamíferos nativos, como a onça-parda (Puma concolor) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus).

Essas, porém, são espécies generalistas, mais adaptáveis a áreas degradadas. Mamíferos que historicamente habitaram o bioma, como a onça-pintada (Panthera onca), o tatu-canastra (Priodontes maximus) e a queixada (Tayassu pecari), foram extintos da região.

A vegetação nativa mostrou-se, ainda, a maior influência para diminuir a quantidade de espécies invasoras, como o cachorro doméstico e a lebre-europeia (Lepus europaeus), mas principalmente os javalis (Sus scrofa).

De acordo com os resultados do estudo, estes suínos, trazidos para o Brasil para criação e que se tornaram pragas agrícolas, podem ser mais detectados em áreas com pouca vegetação nativa dominadas por monoculturas agrícolas, como a cana-de-açúcar.

Nesse cenário de tamanha degradação e perda de espécies, o resultado animador foi que a diversificação de lavouras teve um efeito de amenizar a falta de vegetação nativa.

Ou seja, áreas agrícolas mais diversas, como pequenas propriedades focadas na agricultura familiar e produção de alimentos, ou sistemas agrossilvipastoris (plantações, silvicultura e pecuária numa mesma propriedade) podem ajudar a sustentar uma riqueza maior de espécies nativas e menor de exóticas.

“Este trabalho aponta que talvez seja o caso de nossas políticas públicas não se aterem apenas ao desmatamento, mas também ao problema da simplificação da paisagem. Para além do controle do desmatamento, importa muito o que se faz naquela área que antes era de Cerrado”, analisa Renata Pardini, professora do IB-USP e coordenadora do estudo, que orienta o doutorado de Pônzio.

Pardini cita o Programa Refloresta SP, da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado. Regulamentada em 2022, a política prevê a chamada Restauração de Paisagens e Ecossistemas, abordagem que busca promover ganhos econômicos associados aos ecológicos.

Para isso, promove os sistemas agroflorestais, florestas multifuncionais e sistemas silvipastoris biodiversos. Em todos, há uma composição entre espécies nativas e não nativas, trazendo renda para os produtores rurais e provendo serviços ecossistêmicos importantes, inclusive para as lavouras tradicionais.

O programa tem como parceiro o BIOTA Síntese, um Centro de Ciência para o Desenvolvimento da FAPESP sediado na USP, do qual Pônzio e Pardini fazem parte (leia mais em: agencia.fapesp.br/38674/).

Os pesquisadores ressaltam a importância da manutenção e criação de áreas legalmente protegidas de Cerrado, que são menos de 20% no Estado. Na região analisada no estudo, por exemplo, a maior unidade de conservação é a Estação Ecológica Jataí, com pouco mais de 9 mil hectares.

“Não estamos supondo que uma agricultura diversificada compensaria os danos ambientais do desmatamento e da monocultura. Nossos dados mostram que ela é importante, mas não substitui o papel da vegetação nativa”, encerra Pônzio.

O estudo contou ainda com apoio da FAPESP por meio de bolsa de doutorado para Nielson Pasqualotto, que fez estágio na Colorado State University, nos Estados Unidos.

O trabalho teve também entre os coautores Marina Zanin, bolsista de pós-doutorado no IB-USP.

O artigo Landscape heterogeneity can partially offset negative effects of habitat loss on mammalian biodiversity in agroecosystems pode ser lido em: https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/1365-2664.14543.
 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Nova metodologia projeta crescimento de árvores nativas, elevando rentabilidade de restauração florestal

 

Luciana Constantino | Agência FAPESP – O tema da restauração florestal tem ganhado destaque nos últimos anos tanto na iniciativa privada e no mercado financeiro como na academia e entre governos, principalmente no caso do Brasil, que assumiu o compromisso, desde o Acordo de Paris, em 2015, de recuperar com floresta nativa 12 milhões de hectares, ou seja, praticamente o equivalente ao território da Coreia do Norte. No entanto, as iniciativas ainda dependem do caro processo de plantio de árvores e padecem com a falta de dados sobre o crescimento das espécies e do total de áreas recuperadas.

Pesquisa publicada na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation contribui com o avanço do setor. Mostra que a aplicação de métodos silviculturais em projetos de restauração florestal em larga escala pode aumentar a produtividade e a rentabilidade, viabilizando o abastecimento da indústria madeireira e reduzindo a pressão sobre os biomas naturais, como a Amazônia.

Os cientistas concluíram que, para alcançar alta produtividade, as cadeias de valor da restauração devem incorporar critérios específicos envolvendo uma combinação de espécies nativas; modelos de crescimento das árvores que permitam montar os planos de manejo e colheita com prazos mais curtos; bem como aliar o desenvolvimento de pesquisa e inovação a tratamentos silviculturais.

Liderado pelo engenheiro florestal Pedro Medrado Krainovic, o estudo criou um modelo que projeta o tempo de crescimento de espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica até que elas obtenham "maturidade" necessária para atender à indústria madeireira. Normalmente, as taxas de crescimento para comercialização são definidas de acordo com o tempo que a árvore leva até atingir 35 centímetros de diâmetro.

Com o novo método, os pesquisadores obtiveram uma redução de 25% no tempo de colheita e um aumento de 38% da área basal das árvores. Isso representou uma antecipação média de 13 anos na idade ideal do corte.

“Identificamos os padrões de produtividade versus tempo, o que fornece o indicativo de quando uma dada espécie pode ser manejada para obtenção de madeira para o mercado. Isso ajuda a dar viabilidade à restauração florestal em larga escala, melhorando sua atratividade para proprietários de terra e indo ao encontro dos acordos globais pró-clima. Com base nos nossos dados, projetamos um cenário em que o conhecimento silvicultural estaria melhorado, proporcionando uma restauração mais atrativa para as múltiplas partes interessadas“, diz Krainovic, que desenvolveu o trabalho durante seu pós-doutorado no Laboratório de Silvicultura Tropical (Lastrop) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, vinculada à Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

O projeto foi conduzido no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP. Também recebeu apoio por meio de outros quatro projetos, entre eles o Temático “Compreendendo florestas restauradas para o benefício das pessoas e da natureza – NewFor“ e as bolsas de estudo concedidas aos pesquisadores Danilo Roberti de Almeida (18/21338-3), Catherine Torres de Almeida (20/06734-0) e Angélica Faria de Resende (19/24049-5), coautores do artigo.

O trabalho foi supervisionado pelos pesquisadores Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (Lerf), e Pedro Brancalion, vinculado ao Lastrop e ao projeto BIOTA Síntese.

Contexto

Mesmo tendo sido eleita pelas Nações Unidas (ONU) em 2022 como uma das dez referências mundiais em restauração, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro que mais perdeu área florestal até hoje. Dos cerca de 140 milhões de hectares no Brasil, restam 24% de cobertura florestal. Desse total, somente 12% correspondem a florestas bem conservadas (cerca de 16,3 milhões de hectares), segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica.

Porém, os esforços para conter o desmatamento vêm conseguindo resultados positivos – queda de 42% entre janeiro e maio de 2023 em relação a 2022 (de 12.166 hectares devastados para 7.088 hectares) –, além de as ações de restauração terem surtido efeito. Em 2021, a ONU estabeleceu até 2030 a Década da Restauração de Ecossistemas, um apelo para a proteção e revitalização dos ecossistemas em todo o mundo, para o benefício das pessoas e da natureza.

“A restauração precisa ter mais dados que tragam horizontes favoráveis de uso do solo. Para uma política pública, é preciso ter mais informações que suportem as tomadas de decisão. E esse artigo serve de várias formas, inclusive com uma lista de espécies que pode oferecer subsídios para o proprietário de terra. Abre uma porta para o enriquecimento de restauração florestal com finalidade econômica, mais atrativa e atingindo múltiplos objetivos, como devolver serviços ecossistêmicos a determinadas áreas”, explica Krainovic.

Os resultados do estudo devem alimentar o programa Refloresta-SP, coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado, que tem, entre seus objetivos, a restauração ecológica, a recuperação de áreas degradadas e a implantação de florestas multifuncionais e de sistemas agroflorestais.

Krainovic morou por 12 anos na Amazônia e trabalhou não só em projetos de recuperação de áreas degradadas usando espécies arbóreas com potencial econômico como em cadeias produtivas de produtos florestais não madeireiros que abastecem a indústria de cosméticos, como sementes, óleos essenciais e manteigas. "Um diferencial da minha trajetória é não ter ficado somente na academia. Conheço como são as empresas, a interface com os povos tradicionais nessas cadeias produtivas e a área acadêmica", completa.

Passo a passo

O estudo analisou uma cronossequência de 13 áreas de restauração florestal não manejada distribuídas pelo Estado de São Paulo, que se encontravam em diferentes estágios – entre seis e 96 anos de plantio. Essas regiões têm uma mistura diversificada de espécies nativas – entre 30 e 100 –, o que contribui para a promoção de serviços ecossistêmicos com características semelhantes às da floresta espontânea.

Os cientistas escolheram dez espécies arbóreas nativas comerciais, com diferentes densidades de madeira e historicamente exploradas pelo mercado. São elas: guatambu (Balfourodendron riedelianum); jequitibá-rosa (Cariniana legalis); cedro-rosa (Cedrela fissilis); araribá (Centrolobium tomentosum); guarantã (Esenbeckia leiocarpa); jatobá (Hymenaea courbaril); acácia-amarela (Peltophorum dubium); ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus); aroeira (Astronium graveolens) e pau-vermelho ou cabreúva (Myroxylon peruiferum).

Atualmente, a maioria dessas espécies é protegida por lei e não pode ser vendida legalmente porque são endêmicas da Mata Atlântica e do Cerrado e estão ameaçadas de extinção. No entanto, algumas, como jatobá e ipê-roxo, ainda são exploradas na Amazônia.

Para cada uma delas foram desenvolvidos modelos de crescimento, com base nos dados coletados nos plantios. Com as curvas de crescimento foi aplicado o método GOL (sigla em inglês para Growth-Oriented Logging), para determinação de critérios técnicos de manejo, incluindo um cenário otimizado focado na produção de madeira.

Após testes iniciais, os pesquisadores modelaram o crescimento do diâmetro e da área basal de cada espécie selecionada ao longo da cronossequência. Foram construídos cenários de produtividade usando os 30% maiores valores de diâmetro encontrados para cada espécie por local e idade, o “cenário otimizado”, que representa a aplicação de tratos silviculturais, proporcionando maior produtividade.

As espécies foram classificadas usando o tempo necessário para atingir os 35 centímetros de diâmetro para a colheita em três faixas: crescimento rápido (menos de 50 anos), intermediário (50-70 anos) e lento (maior que 70 anos). Ao aplicar a abordagem GOL, foram agrupadas em taxa de crescimento rápida (menor que 25 anos); intermediária (25-50 anos); lenta (50-75 anos) e superlenta (75-100 anos).

O cenário otimizado teve o tempo de colheita reduzido em 25%, representando uma antecipação média de 13 anos na idade ideal de colheita.

As exceções foram o jequitibá-rosa e o jatobá, que apresentaram seu período ideal de colheita prolongado, mas a área basal aumentou mais de 50%. Por outro lado, o cedro-rosa teve redução de 36,6% na área basal de colheita (646,6 cm2/árvore), mas uma antecipação de 47 anos em tempo de colheita (51% mais rápido que o GOL).

No total, nove das dez espécies atingiram diâmetro de 35 cm antes dos 60 anos – a exceção foi o guarantã, com alta densidade de madeira.

O estudo Potential native timber production in tropical forest restoration plantations pode ser encontrado em: www.perspectecolconserv.com/en-potential-native-timber-production-in-avance-S2530064423000640.
 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

 

Mini pequi: fruto encontrado no Tocantins é um dos menores do mundo





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Fonte: https://agro2.com.br/agricultura/mini-pequi-fruto-encontrado-no-tocantins-e-um-dos-menores-do-mundo/