quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Geodésia, topografia e cartografia: diferenças



Geodésia, cartografia e topografia são técnicas geográficas que têm sido otimizadas com avanços tecnológicos. Entenda o que cada uma pode fazer por sua empresa.

A Geografia é uma área bastante interdisciplinar, pois utiliza diferentes conhecimentos e ferramentas para estudar não só o espaço físico, mas também os fenômenos (naturais e antropológicos) que alteram a paisagem e como isso se relaciona com a organização social e econômica de uma determinada região.

A Geografia é composta por diversas disciplinas que, juntas, traduzem o espaço físico em representações e permite a elaboração de análises. Muitas pessoas podem acabar confundindo geodésia, topografia e cartografia, contudo, apesar de trabalharem conjuntamente muitas vezes, elas se tratam de diferentes técnicas geográficas. Confira as diferenças a seguir: 

Geodésia

Geodésia é um termo há muito tempo estabelecido na geografia e se refere à técnica de medição e divisão de terras. Modernamente, esse campo de conhecimento passou a incluir o estudo do campo gravitacional terrestre e da superfície oceânica.

A Geodésia se divide basicamente em dois ramos de atuação. Um deles tem uma função teórica e é estruturada por investigações científicas que buscam determinar as dimensões e a forma do planeta Terra.  O outro ramo é mais prático e envolve a disponibilização de informações para apoiar trabalhos diversos para outras áreas afins (como engenharia, cartografia e topografia).

Enquanto a Geodésia Geral se encarrega de mensurar a forma e as dimensões da Terra, a Geodésia Aplicada determina a posição exata de pontos específicos na superfície terrestre, nas áreas oceânicas e continentais, para fins de mapeamento a partir de operações geométricas que mensuram distâncias e ângulos.

Esse ramo de conhecimento também pode se utilizar de satélites artificiais para rastrear a superfície terrestre, estando presente em projetos de obras de engenharia para a construção de pontes, barragens e grandes edifícios. Outra aplicação dos conhecimentos da geodésia é durante o trabalho de ecólogos, que levantam dados sobre os efeitos das ações humanas sobre o meio ambiente.

Topografia

A topografia pode ser definida como a ciência que estuda as características na superfície de algum território – tais como: relevo, declínio ou outro acidente geográfico.

Esse estudo sobre as superfícies terrestres está presente desde os primórdios da humanidade em sociedades como a egípcia, a babilônia, a chinesa e a árabe, nas quais era utilizado para descrever, avaliar e delimitar propriedades rurais e urbanas e fazer um levantamento de como ocupar cada área da maneira mais apropriada.

Entre as ferramentas utilizadas pela Topografia, podem-se citar o teodolito (instrumento de precisão óptico usado para realizar a medida de ângulos verticais e horizontais) e o nível (usado para medir inclinações em planos, podendo ser digital ou óptico).

Assim como a Geodésia, a Topografia representa a Terra (cuja superfície é irregular) em um plano. Contudo, existe uma diferença básica entre ambas: a topografia estuda a área de uma determinada superfície com até 30 km de dimensão.

Já a Geodésia trabalha com proporções de escala maiores e estuda e mapeia grandes porções do planeta Terra. Por isso, pode-se dizer que a Topografia é um segmento da ciência Geodésia.

Cartografia

A cartografia é a área do conhecimento que estuda, analisa e produz plantas, mapas, cartogramas e todos os tipos de representações gráficas do espaço. Assim, esse conjunto de técnicas científicas e até artísticas busca elaborar documentos que representem, de forma reduzida, as características de uma determinada localidade.

O desenvolvimento tecnológico permitiu a obtenção de técnicas avançadas e capazes de produzir mapas altamente detalhados e capazes de cruzar um grande volume de dados. Contudo, a produção de mapas e plantas é uma ciência antiga: historiadores apontam que o mapa mais antigo da história tem cerca de 4500 anos, tendo sido  produzido por povos babilônicos.

Uma mesma área pode ser representada de diferentes formas em diferentes sociedades e momentos históricos, sendo que cada um deles pode priorizar representar uma determinada informação em detrimento de outra. Assim, é importante lembrar que a cartografia é demarcada e condicionada historicamente, pertencendo assim à história social das representações do espaço.

FONTE: https://visaogeo.com.br/geodesia-topografia-e-cartografia-diferencas/




quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Estudo mapeia desafios e aponta diretrizes para a restauração do Cerrado

 

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O Cerrado já perdeu cerca de 70% da sua cobertura original. Savana mais biodiversa do mundo, detentora de 33% de toda a biodiversidade brasileira, berço das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul, o Cerrado é hoje também o bioma mais ameaçado do Brasil. Salvar o que resta, por meio de ações de preservação, é necessário e urgente. Mas não é suficiente. É preciso também restaurar.

O grande problema é que o Cerrado é muito difícil de ser restaurado. Nas últimas décadas, várias alternativas de restauração foram testadas. Mas nenhuma se mostrou totalmente efetiva. Para entender o potencial de cada uma delas e a possibilidade de serem consorciadas em uma estratégia de conjunto, uma pesquisa apoiada pela FAPESP compilou um amplo conjunto de dados de 82 áreas distintas, distribuídas por cinco Estados e pelo Distrito Federal. Os resultados do estudo foram divulgados no Journal of Applied Ecology.

“Comparamos o quanto essas áreas em restauração estavam similares às áreas conservadas, preservando as fisionomias de campos e savanas predominantes no bioma. E, em cada área, avaliamos a eficácia das técnicas de restauração passiva [regeneração natural] e ativa [semeadura, plantio de mudas de árvores, transplante de plantas, raízes e solo]”, conta Natashi Pilon, professora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) e primeira autora da pesquisa.

O estudo investigou 712 espécies, típicas do Cerrado bem preservado. Dessas, 338 (47%) não foram encontradas em nenhum dos locais em restauração. Como se isso não bastasse, de 520 espécies registradas exclusivamente em locais de restauração, 70% não eram típicas do Cerrado. Em outras palavras, espécies que deveriam estar presentes nas áreas restauradas não estão, e espécies que não deveriam estar presentes estão.

“Nos projetos de restauração, espécies que não são características do Cerrado estão sendo introduzidas. É o caso das ruderais [que crescem espontaneamente em terrenos baldios]. Embora nativas do Brasil, essas espécies não são características de nenhum bioma específico. E comprometem a estabilidade do ecossistema em restauração a longo prazo”, sublinha Pilon.

Os limites da regeneração natural

O Cerrado é muito diversificado. Um dos objetivos do estudo foi entender como cada tipo de planta responde às diferentes técnicas de restauração, considerando capins nativos, ervas, subarbustos (plantas que se assemelham a ervas, mas possuem lenho abaixo do solo), arbustos, trepadeiras e árvores.

“Verificamos que, em áreas onde somente a regeneração natural foi adotada, a quantidade de espécies típicas não aumentou com o tempo. Esse resultado mostra que muitas espécies possuem limitações para colonizar áreas degradadas. E que simplesmente deixar que o Cerrado se recomponha por si mesmo não permitirá recuperar a biodiversidade perdida”, conta Pilon.

A Figura 2 (ver abaixo), derivada do estudo, apresenta, graficamente, a eficácia de cada técnica de restauração em relação ao tipo de planta. Note-se que a restauração passiva permite a conservação de um número limitado de espécies típicas – geralmente árvores e arbustos que apresentam alta capacidade de rebrota. Ainda assim, a recuperação dessas espécies lenhosas depende de quanto o solo foi modificado e se ainda existem raízes capazes de rebrotar. Quanto às técnicas de restauração ativa, a figura mostra que a semeadura e o transplante de plantas e solo conseguem recuperar maior diversidade de espécies típicas, cada técnica sendo favorável para um tipo específico de planta.

Síntese das principais formas de crescimento do Cerrado que cada técnica de restauração é capaz de recuperar (imagem: Natashi Pilon/Unicamp)

“Cada componente desses ecossistemas complexos desempenha um papel importante para sua resiliência e funcionamento. Assim, uma restauração efetiva precisa considerar todos esses fatores. Por exemplo, capins nativos alimentam as queimadas e controlam a densidade de espécies lenhosas, processo natural em ecossistemas savânicos. A diversidade de ervas regula a dinâmica de polinizadores, mantendo suas populações na paisagem e fornecendo recursos para as abelhas se alimentarem durante todo o ano. Subarbustos e arbustos rebrotam e colonizam depressa a área após perturbações naturais e são altamente resilientes a perturbações antrópicas. Além disso, armazenam grande quantidade de carbono abaixo do solo por meio de suas estruturas subterrâneas bem desenvolvidas. Assim, uma restauração bem-sucedida, com o objetivo de recuperar a biodiversidade e/ou os serviços ecossistêmicos, deve considerar a reintrodução de todas as formas vegetais encontradas em áreas conservadas do Cerrado”, resume a pesquisadora.

Considerando as diferentes técnicas de restauração ativa e os diversos tipos de plantas, o estudo mostrou que, para capins nativos, a semeadura direta, a transposição de solo superficial e o transplante de material vegetal permitiram aproximar-se da proporção encontrada no ecossistema conservado, de 18%. Para ervas típicas, proporções aproximadas à encontrada em ecossistema conservado, também de 18%, foram obtidas apenas por meio de transposição de solo superficial ou transplante de material vegetal. Em áreas onde a restauração foi feita pelo plantio de árvores, não foram registradas gramíneas nativas típicas, sendo esta a pior técnica de restauração avaliada.

Para subarbustos, apenas a técnica de transplante recuperou espécies típicas em proporções próximas à encontrada em ecossistemas conservados, de 24%. Para arbustos, a proporção foi semelhante à referência, de 14%, na maioria das técnicas analisadas, exceto a transposição de solo superficial e o plantio de árvores, que apresentaram valores muito inferiores. Já a proporção de árvores mostrou-se maior do que nos ecossistemas conservados na maioria das intervenções de restauração analisadas.

“Com base nesses resultados, podemos concluir que, para uma restauração efetiva do Cerrado, não existe uma panaceia. Uma única técnica de restauração isolada não será capaz de trazer todos os componentes que garantam a resiliência e o funcionamento do bioma. Além disso, as técnicas com melhores resultados – semeadura e transplante – são altamente dependentes de áreas conservadas para aquisição de sementes e material vegetal [plantas inteiras e raízes]. Assim, políticas e estratégias que promovam a conservação são tão ou mais urgentes do que a restauração propriamente dita”, sintetiza Pilon.

E acrescenta: “Quando se fala em Floresta Amazônica, o discurso é ‘vamos preservar’. Mas, em relação ao Cerrado, o discurso muda para ‘vamos restaurar’. Nosso estudo mostrou que, embora imprescindível, a restauração não é fácil. E depende da preservação. Apesar de toda a destruição, ainda existe muito Cerrado a preservar, principalmente na faixa norte, na área do Matopiba [acrônimo que denomina a região que se estende por porções dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]. O desafio é que essa área está sendo fortemente impactada pela expansão agrícola, a exemplo do que já ocorreu em Goiás e no Mato Grosso”.

O estudo em pauta recolheu dados dessa área, bem como de outras partes do Cerrado. A pesquisa de campo foi realizada em propriedades particulares e em várias unidades de conservação, como a Estação Ecológica Santa Bárbara, a Floresta Estadual de Assis, a Estação Ecológica e Experimental de Itirapina e a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itararé, no Estado de São Paulo; o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e o Parque Nacional de Emas, em Goiás; o Parque Municipal do Pombo, no Mato Grosso do Sul; e o Parque Estadual do Guartelá, no Paraná. O trabalho foi apoiado pela FAPESP por meio de três projetos (19/07773-1, 20/09257-8 e 19/03463-8).

O artigo Challenges and directions for open ecosystems biodiversity restoration: an overview of the techniques applied for Cerrado pode ser acessado em: https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1365-2664.14368.
 

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Mudas de nativas para a escola estadual padre João Tomes em MS




 

Oi  Alexandre lá é escola estadual padre João Tomes, localizada na vila piloto em Três Lagoas - MS.

Quando você tiver um tempinho, me manda por gentileza o nome das espécies para que fique mais fácil da professora de ciências identificar, acredito que ela não vai ter dificuldade, mas só para ela se situar

Muito obrigada pela atenção! Depois mando foto.

"Jozi somos gratos por participar de uma ação tão maravilhosa como essa." Estamos a disposição!



segunda-feira, 10 de julho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 12º PONTO

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

12. Quais são os desafios para que a ciência seja mais aplicada na formulação de políticas públicas?

Embora se dê cada vez mais importância à necessidade de interação entre a ciência e a formulação de políticas públicas, ainda existem diversos desafios para que ambas caminhem juntas. Parte desses desafios se deve ainda à falta de costume do desenho de projetos científicos que permitam, desde seus estágios iniciais, a cocriação entre cientistas, gestores, membros do governo, setor privado, ambientalistas e outros atores da sociedade civil. Para isso, cientistas precisam fazer um esforço para balancear seus interesses de pesquisa com demandas da sociedade por informações científicas. Por outro lado, tomadores de decisão precisam se habituar a basear suas ações em informações científicas e evidências sempre que possível, independentemente de questões ideológicas. Assim, um grande desafio ainda a ser enfrentado é assegurar que a ciência não seja silenciada por forças políticas que visam a garantir o interesse de poucos. Ainda é preciso encontrar meios para que a razão dos fatos científicos fale mais alto do que interesses políticos.

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos    

quinta-feira, 6 de julho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 11º PONTO

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

11. Qual a importância da comunicação científica em veículos de fácil acesso à população, não só em forma de artigos científicos? Como esse tema aparece no Projeto Temático BIOTA/FAPESP sobre o Código Florestal?

Entre o tempo de escrever um artigo científico até a sua publicação é possível que se passe um ano ou até mesmo mais tempo. No entanto, muitas questões importantes para a sociedade exigem decisões urgentes e planos de ação rápidos. Portanto, é de interesse tanto dos cientistas quanto da sociedade que as políticas públicas, bem como outras decisões socialmente relevantes, sejam baseadas em evidências científicas. Nesse sentido, é necessário que os cientistas utilizem outros meios para divulgar seus estudos para além de periódicos científicos, que geralmente têm alcance restrito ao público acadêmico. Por exemplo, notas técnicas, publicações para mídias de jornalismo científico e divulgações por meio de sites de acesso público são algumas opções para uma divulgação mais ampla e mais rápida da ciência.

Além disso, por meio de outros meios de comunicação, os cientistas podem se valer do uso de uma linguagem mais acessível do que aquela extremamente técnica e, por vezes, árida para o público em geral, exigida pelos periódicos científicos. Assim, é possível não apenas levar os resultados científicos para um maior número de pessoas, como garantir que eles sejam compreendidos por qualquer um que tenha interesse. No caso do Projeto Temático BIOTA/FAPESP do Código Florestal em São Paulo, essa forma de ciência, participativa e inclusiva, foi realizada por meio de reuniões abertas ao público para levantar as demandas por informações científicas, apresentar resultados e discutir metodologias. Além disso, os dados gerados foram disponibilizados em um site de acesso livre e divulgados por meio de notas técnicas e da mídia em geral, e não apenas em artigos científicos.

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos    

terça-feira, 4 de julho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 10º PONTO

 O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

10. Quais são as possíveis consequências de não cumprir de forma eficiente o novo Código Florestal, assim como aconteceu com suas versões anteriores?

O não cumprimento do Novo Código Florestal ameaça a proteção e a restauração de grandes áreas de vegetação nativa e, com ela, da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima, o abastecimento de água, a polinização e o controle de pragas agrícolas e arboviroses. Portanto, o seu cumprimento é importante não apenas para o meio rural e a agricultura, mas para a população das cidades.

Tomando apenas o estado de São Paulo como exemplo, 1,02 milhão hectares de vegetação nativa podem deixar de ser restaurados com o não cumprimento do código. Em relação ao Brasil como um todo, sem considerar as reduções de reserva legal fornecidas pelo artigo 68 do novo Código Florestal, essa área pode ser de 19 milhões de hectares (Guidotti et al., 2017)

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos    

quinta-feira, 29 de junho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 9º PONTO

 O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

9. Cumprir o novo Código Florestal limita a capacidade de produzir alimentos e outros produtos agrícolas (etanol, papel e celulose)?

Esta pergunta foi respondida no artigo “Why Brazil needs its Legal Reserves”, do pesquisador Jean Paul Metzger e colaboradores. As reservas legais geralmente ocorrem em terras de baixa aptidão para a agricultura intensiva. Elas não competem com áreas propícias para a cultura agrícola e acarretam apenas ganho econômico a curto prazo e limitado, com a venda do carvão vegetal e criação do gado em áreas recém-convertidas. A médio e longo prazo, na verdade, a degradação ambiental pode levar à perda da produtividade agrícola, gerando mais ônus ao proprietário do que ganho na produção de uma cultura. Na região amazônica, muitas áreas desmatadas para pastagem são abandonadas depois de alguns anos devido à baixa aptidão para o cultivo e a criação de gado, gerando áreas de vegetação nativa secundária (INPE, 2014).

Ademais, estudos como do pesquisador Sparovek e seus colaboradores (2015) apontam que o Brasil tem imensas áreas de pastagens degradadas altamente adequadas para agricultura. Esses dados só reforçam que a produção agrícola não deveria ser regulada apenas quanto a sua expansão nas áreas protegidas ou na implementação do novo Código Florestal, mas em buscar intensificar essa atividade nas áreas já consolidadas com os recursos técnicos disponíveis atualmente.

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos    

quarta-feira, 28 de junho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 8º PONTO

 O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

8. O que ainda falta ser resolvido para implementar o novo Código Florestal, e como a ciência pode contribuir?

Um dos principais desafios para a implementação do novo Código Florestal é a aplicação do artigo 68, que isenta de compensação, restauração, ou regeneração, os proprietários que suprimiram a vegetação nativa de sua reserva legal de acordo com os percentuais exigidos pela legislação em vigor à época da supressão. Outra questão que depende de conhecimento científico é a implementação do conceito de identidade ecológica na compensação de reserva legal.

Ambos os temas vêm sendo bastante discutidos e estudados pelo meio acadêmico, com propostas para sua aplicação sem inviabilizar a implementação do novo Código Florestal. A decisão do Supremo Tribunal Federal em fevereiro de 2018 de restringir a compensação de reserva legal entre áreas com identidade ecológica gerou polêmica entre os setores envolvidos na implementação da lei. Porém, os estudos científicos (ver pergunta 7) apontam que a aplicação desse conceito é importante e possível, balanceando uma área muito restrita que era estabelecida para a compensação no Código Florestal de 1965 (microbacia) e uma área muito extensa como o bioma, conforme previsto no Novo Código Florestal. A ciência apresenta métricas para medir essa equivalência e modelos de aplicação.

Em relação ao artigo 68, muitos estados ainda precisam definir em seus Programas de Regularização Ambiental (PRA) quais serão os marcos legais utilizados para a aplicação desse mecanismo. No caso do estado de São Paulo, após o julgamento do PRA, ficaram estabelecidos os seguintes marcos: Código Florestal de 1934lei federal n. 7.803 de 1989 e o Código Florestal de 1965. No entanto, para o Código Florestal de 1934 não existem mapas espacialmente precisos sobre a distribuição da vegetação nativa. Portanto, para esse período, no estado de São Paulo, a equipe do Projeto Temático BIOTA/FAPESP do Código Florestal desenvolveu um mapa que representa a probabilidade da distribuição da vegetação nativa. No entanto, por ser um mapa probabilístico e para o qual não é possível avaliar o grau de incerteza, ele não é adequado para a tomada de decisão na hora de avaliar se o proprietário tem direito aos benefícios do artigo 68.

A permanência desse marco no PRA paulista faz com que a análise do artigo 68 (ou artigo 27 da lei estadual), provavelmente, tenha que ser feita caso a caso, o que pode atrasar ainda mais a implementação do novo Código Florestal. Portanto, os demais estados devem avaliar cuidadosamente os benefícios em comparação aos desafios da manutenção da lei de 1934 para a análise do artigo 68.

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos    

terça-feira, 27 de junho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 7º PONTO

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

7. O que é identidade ecológica, e qual é a importância de compensar a reserva legal em áreas ecologicamente equivalentes?

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos    

segunda-feira, 26 de junho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 6º PONTO

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

6. Como o proprietário de um imóvel rural pode adequar a sua propriedade ao novo Código Florestal?

O novo Código Florestal traz algumas opções para o proprietário rural que apresenta déficit de vegetação nativa em áreas de reserva legal ou em áreas de preservação permanente regularizar suas terras.

Para as reservas legais, o proprietário pode optar pela recomposição, regeneração natural ou compensação da vegetação nativa3. Na recomposição, o proprietário deve realizar o plantio de mudas de espécies nativas, que podem ser combinadas com até 50% de espécies exóticas4. O proprietário também pode optar por deixar a vegetação nativa se regenerar naturalmente. Uma terceira opção é compensar o seu déficit de reserva legal em outra propriedade, preservando a vegetação existente ou restaurando. A compensação deve ocorrer em áreas que estejam no mesmo bioma e sigam o critério de identidade ecológica (ver pergunta 7). Caso estejam em estados diferentes, a área de compensação deve ser considerada como prioritária para a conservação. A área de compensação pode ser adquirida pelo proprietário com déficit por meio da compra das chamadas cotas de reserva ambientalarrendamento de áreas de servidão ou doação de áreas dentro de unidades de conservação. As reservas legais permitem esse tipo de compensação em outro local pois são como um “estoque” de vegetação nativa, e não áreas ecologicamente sensíveis, como é o caso das APPs.

Já para as APPs, o proprietário pode optar apenas entre a restauração e a regeneração natural — ou seja, não há a opção de compensação. Isso porque as APPs são áreas com características físicas e biológicas específicas, que têm alto valor ambiental, como são as margens de rios, encostas de morros e manguezais. Portanto, é preciso recuperar a vegetação existente no próprio local para que se recupere, ao máximo, a função ecológica da área (Guidotti et al., 2020).

BIBLIOGRAFIA

Brancalion, P.H.S., Garcia, L.C., Loyola, R., Rodrigues, R.R., Pillar, V.D., Lewinsohn, T.M., 2016. A critical analysis of the Native Vegetation Protection Law of Brazil (2012): Updates and ongoing initiatives. Natureza e Conservação, 14, 1–15. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2016.03.003

Bull, J., Strange, N. 2018. The global extent of biodiversity offset implementation under no net loss policies. Nature Sustainability, 1, p. 790-798, https://doi.org/10.1038/s41893-018-0176-z


Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos   

quinta-feira, 22 de junho de 2023

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos - 5º PONTO

O novo Código Florestal explicado em 12 pontos

Alice Dantas BritesGerd SparovekKaline de Mello e Paulo André Tavares

 

 5. Qual é o total estimado do déficit ambiental do estado de São Paulo? E onde ele está concentrado?


Utilizando as regras existentes na lei que regula a implementação do novo Código Florestal nos estados, o Programa de Regularização Ambiental, do estado de São Paulo, estimamos que o déficit total no estado — ou seja, a área de vegetação nativa que falta para a propriedade se adequar à lei — de áreas de reserva legal e de áreas de preservação permanente é de 1,02 milhão de hectares.

O estado de São Paulo tem 334.911 propriedades rurais. Entre elas, 9.222 (3%) apresentam déficit de reserva legal, somando um total de 328 mil hectares a serem restaurados ou compensados. Oitenta e dois por cento dos déficits estimados encontram-se em áreas de Mata Atlântica e 18%, no Cerrado. Apenas 1% do número de imóveis rurais de São Paulo (1.228) concentra 50% do total do déficit estadual, que está localizado principalmente nas regiões noroeste paulista e o Pontal do Paranapanema.

Para as APPs são estimados 228 mil imóveis rurais com irregularidades, o equivalente a 68% do total de propriedades no estado de São Paulo. A área soma 692 mil hectares que precisam ser restaurados. Desse total, 83% encontram-se na Mata Atlântica e 17%, no Cerrado. Assim como no caso das reservas legais, o déficit estimado das APPs está muito concentrado em poucas propriedades rurais: 2% dos imóveis do estado (7.484) retêm 50% desse déficit.

BIBLIOGRAFIA

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Fonte: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/O-novo-C%C3%B3digo-Florestal-explicado-em-12-pontos